Boa tarde, tudo certo, gente?
Essa semana, como fiquei extremamente lotado de coisa pra fazer, acabei decidindo republicar uma história que escrevi pros idos de 2022, sobre uma pessoa alucinada pelo youtuber Cellbit. Espero que vocês curtam!
ATENÇÃO: A SEGUINTE HISTÓRIA É 100% FICCIONAL, E QUAISQUER SEMELHANÇAS COM A REALIDADE SÃO PURAMENTE COINCIDÊNCIAS!
Era uma tarde de domingo, e eu estava no pior lugar do mundo. Havia uma hora em que estava ouvindo outras pessoas falarem, aguardando a minha vez. Só duas pessoas haviam dado seus relatos até agora. Os relatos eram desnecessariamente longos, e davam detalhes demais. A ira e ansiedade tomavam conta de mim, enquanto ouvia um magrelo esquisito de óculos falando sem parar. O local não ajudava, era escuro e com cheiro de mofo. Ao olhar ao meu redor, vi outros esquisitos, como eu. Alguns estavam retraídos, alguns se balançavam ansiosamente.
-… e foi assim que eu ganhei uma ordem de restrição, não posso ficar mais a um quilômetro e meio da casa dele — encerrou o magrelo
-Muito bem, Darci. Seu relato exige bastante coragem. Eu irei conversar melhor contigo individualmente depois que a reunião de hoje acabar, pois ainda temos muita gente pra ouvir. Agora, vamos ouvir… Você — disse a psicóloga que coordenava a reunião, apontando em direção a mim
-Eu? — disse eu, incerto se ela apontava em minha direção ou da pessoa ao meu lado
-Sim, você. Qual é seu nome?
-Me chamo Mateus.
-Seja bem vindo Mateus. O que te traz aqui? Fique a vontade pra nos contar sua história.
-Ééé… — um nervosismo repentino me bateu, mas o engoli, respirei fundo e comecei — Eu sou Mateus, tenho 22 anos e sou viciado em Cellbit.
-Um viciado em tratamento. Mas e ai, como começou? Conta pra gente.
Tudo começou em 2012, quando o Youtube crescia para ser o que se tornou hoje em dia. Eu gostava de assistir youtubers, apesar de não ser tão assíduo. Como bom jogador de Minecraft, eu assistia o Monark e o VenomExtreme, mas era mais porque meus amigos no colégio gostavam e eu queria me enturmar. Nunca senti muita conexão com nenhum dos dois.
Um dia, depois de assistir um vídeo do Monark, fui ver os vídeos recomendados. Lá estava ele, com aquele sorriso. Aquele maldito sorriso. Além de olhos azuis, como farois de neon. Sem saber aonde isso iria me levar no futuro, cliquei. Fiquei compenetrado naquela gameplay.
-Esse cara é engraçado — pensei.
Fiquei tão entretido com aquele vídeo que nem percebi o tempo passar. Quando acabou, automaticamente dei joinha e me inscrevi.
Nos dias subsequentes, maratonei todo o conteúdo do canal de Cellbit. Era como uma fome insaciável pelos conteúdos dele. Todo momento livre que tinha usava para assistir o canal dele, e quando não podia assistir, ficava ansioso para que o que estivesse fazendo acabasse logo para que pudesse voltar a ver os vídeos. Mas, como nem tudo são flores, em uma semana já tinha esgotado todos os vídeos. O que iria fazer agora?
Resolvi pesquisar “Cellbit” no Facebook, na esperança de ver algum conteúdo novo, já que meu nervosismo e obsessão não me permitiam esperar por um novo vídeo. Encontrei a página dele, curti e fui ver os posts.
Logo, este se tornou meu novo vício, enquanto não saíam vídeos novos. Chegava da escola, ia diretamente para frente do computador e ia ver os posts do Cellbit. Lia todos os comentários, porque eu queria ter certeza de que não estava perdendo nada. Até que vi que em todos os posts tinham comentários de uma pessoa chamada “Maicossuel Bitos”, sempre com muitas curtidas, e pessoas falando que ele havia “mitado”. Achei legal, então adicionei ele. Ele aceitou rápido, estava online. Então, resolvi chamá-lo para conversar.
-eae blz? — enviei
-dae. Qm é vc? — respondeu Maicossuel
-meu nome é mateus, te add lá da página do Cellbit
-ah suave.
Dali em diante, conversamos bastante. Até que ele me perguntou:
-ow tu gosta mesmo do Cellbit hein? Sabe as fala dos vídeo de cor e tudo
-gosto… — respondi
-eu sou amigo pessoal dele, vo contar isso pra ele kkkk — falou Maicossuel
Fiquei sem reação. Mas daí pensei um pouco mais e disse:
-tem como vc me passar o número dele?
-pq q tu qr?
-só pra conversar msm — respondi
-passo, mas não de graça
A situação mudou a partir daí. Fiquei pensando no que poderia fazer. Mas cheguei a conclusão que, para conversar com o Cellbit, valia a pena.
-ta blz. Quanto vc qr?
-300 reais
-O que? — escrevi eu, surpreso pelo quanto ele havia pedido.
-vc qr ou não qr irmão?
Aonde eu iria arrumar 300 reais? Pensei, até o momento em que me veio uma ideia. Eu sabia onde arranjar o dinheiro. Correndo, fui até a carteira da minha mãe, aproveitando que ela estava dormindo, e peguei o seu cartão de crédito.
-quero! — respondi — vc aceita cartão de crédito?
-cartão de crédito? porra irmão. faz o seguinte, me passa só os números dele, a validade e o código de segurança, q eu vo fazer uma compra de 300 reais com ele
Confiando em Maicossuel, passei os números. Em seguida, ele passou o telefone de Cellbit. Já era de madrugada, então deixei para enviar mensagens para o youtuber no outro dia.
Na tarde do dia seguinte, quando já havia chegado do colégio, deitei em minha cama, respirei, e resolvi tomar o primeiro passo. Mandei a mensagem para Cellbit.
-oi é o Cellbit? aqui é o Mateus, amigo do Maicossuel!
Fiquei ansioso, esperando a resposta. Depois de 29 minutos, que pra mim pareceram mais uma eternidade, recebo um SMS:
-oi, aqui é ele. Do q vc precisa?
-eu sou mt seu fã cellbit. queria só conversar — respondi
Depois de mais um período longo, ele respondeu:
-ah sim! adoro meus fãs. E ai, curtiu o vídeo dessa semana?
Dali, a conversa desenrolou. Fiquei até de noite conversando com ele, que respondia sempre com bastante atraso. Do meu quarto, ouvi a porta se abrindo, e choros muito altos. Imaginei que fosse minha mãe, chegando do trabalho. Levantei e fui ver do que se tratava.
Minha mãe estava aos prantos, segurando um papel. Perguntei:
-Mãe, o que aconteceu?
Meu pai chegou logo depois, com a cara aborrecida. Minha mãe respondeu:
-Alguém fez uma compra no meu cartão. 5417 reais! Como eu vou pagar isso? — disse ela, chorando.
-Mateus, foi você quem fez isso? — falou meu pai, com um tom levemente inquisitório.
Eu? Eu não tinha feito compra nenhuma! Até que me lembrei… Eu havia passado os números para Maicossuel.
-Não! Não comprei nada! — disse eu, imaginando que o pior estava por vir.
-”Marques Informática LTDA”, é o que diz aqui na fatura. Você comprou um computador nessa loja com o cartão da sua mãe, Mateus? — disse meu pai.
-Não! — respondi eu, sem saber o que dizer.
-Pra mim já chega, essa foi a gota d’água. Suas notas estão péssimas, e agora você vai fazer a gente gastar um dinheiro que não temos. Arrume suas malas Mateus, porque aqui você não fica mais.
Fui para o meu quarto, arrumei as malas e parti, sem saber para onde ir. Eu achei que ia ficar mais triste, mas, na verdade, minha cabeça só pensava em uma coisa: Cellbit.
Essa foi a primeira parte da história, que eu reli recentemente e fiquei me questionando como tava a minha sanidade no dia que resolvi escrever isso. Mas fiquem calmos, fica pior conforme a história avança. Irei publicar em situações como essa, em que eu estou sufocado de coisas para fazer.
Muito obrigado por lerem e até a próxima!